27.4.10

[rascunho] Capítulo □□□ - [Corra]

Father, where's my gun?
Now that the war has begun
Oh let me go it alone
I need no one
I said I need no one


Talvez, se houvesse a possibilidade dele sentar e descansar, G. pensaria em como nunca tinha corrido tanto em sua vida. Mas não havia mais possibilidade para isso.



A mata se tornava cada vez mais densa conforme ele corria; sua velocidade também diminuia, mas suas batidas do coração mantinham-se altas. Se não fosse seu corpo de dezessete anos, provavelmente já teria sofrido um ataque cardíaco. Ele mantinha em si apenas trapos ensanguentados do que antes eram suas roupas e seu rosto exibia profundos arranhandos causados pelos galhos de árvores. Por outro lado, seu perseguidor não parava. A mata fechava, o cansaço batia, seus pés prendiam nas raízes, mas ele não parava. Abria o mato com seu machado de porte médio e mantinha uma velocidade constante, zombando de sua caça.

A mata se tornava insuportavelmente mais densa, a tal ponto que G. tinha que se desdobrar entre entre árvores escorregadias de musgo e mudar sua direção várias vezes até achar uma brecha em que pudesse passar. Sua ofegação formava vapores visíveis e seus joelhos ardiam toda vez que ele os dobrava. O coração batia alto e forte, espirrando sangue pela ferida formada por um galho agudo que rasgou a superfície de seu ombro, adicionando mais vermelho ao que era antes sua camiseta branca. Lágrimas desciam de seu rosto conforme percebia o término dessa situação. A nove metros dele estava seu perseguidor, que talvez por conhecer aquela floresta muito bem, talvez por ser guiado pelo rastro de sangue de sua presa, ou talvez por ajuda de forças desconhecidas, mantinha sua velocidade constante ao mesmo tempo que se aproximava cada vez mais do garoto. O perseguidor brincava com seu machado, girando-o desencontradamente e rindo em um tom baixo.

A mata era um muro impenetrável. Num ponto dela, havia um amontoado de trapos sujos e ensaguentados que tremia e chorava. O trapo tropeçou em uma raíz e caiu, mas não levantou. Mantinha em sim apenas um resto de suas calças e dezenas de cicatrizes. Abraçando com toda sua força seu próprio corpo, o trapo se encolheu num feto e aceitou seu destino de trapo. Seus olhos não conseguiam abrir de tanto que chorava. O trapo perdeu o jogo e virou o covarde. O perseguidor, novo ganhador, diminuiu sua velocidade enquanto contemplava seu prêmio. Quando o perseguidor chegou bem perto dele, brandindo seu machado no ar, o trapo pode finalmente ver o rosto de seu caçador, e o trapo gritou. Então a mata virou só sangue.

Talvez, se houvesse a possibilidade dele sentar e descansar, G. pensaria em como nunca tinha corrido tanto em sua vida. Talvez, se houvesse a possibilidade dele sentar e pensar, G. perceberia que nunca esperaria que tudo teria aquele fim. Talvez, se G. ainda estivesse vivo, ele perceberia que no final só havia o medo.

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