colors die many times before their death.

Ele joga a moeda para o alto e quando o pequeno metal cai na mesa encardida, Ele o tapa com a mão esquerda, abafando o tintilar e mostrando dedos nodosos e unhas mal cuidadas. Nesse meio tempo, Ela apoiou-se com os cotovelos sobre a mesma mesa e fechou os olhos, pensando se não era melhor terem ido ao cinema ou ficado cada um em sua casa, pelo menos dessa maneira poderia ser evitado o que estava por vir.

-É cara ou coroa?- Ele pergunta.

-Sei lá, coroa?- Ela responde, impaciente.

-Não, não. Você tá chutando uma possibilidade, eu quero que você me diga qual face caiu, qual é a verdade.

-E como diabos eu posso saber?

-Exatamente o que eu estou querendo mostrar! Se não há conhecimento sobre o resultado, o que aconteceu com a verdade? Se eu te dizer que há um dragão lá fora, como você pode provar que estou mentindo ou falando a verdade sem olhar fora daqui?

Ela pega seu sanduíche e dá uma mordida. Com um mastigar propositalmente lento, Ela olha para todas as outras mesas com seus clientes gordos e sujos. Como forma de prolongar ainda mais sua resposta, Ela guia seu olhar para o teto do fast-food e percebe uma rachadura bem em cima dele, um risco de uns cinco centímetros de comprimento. Entretanto, era nada demais considerando as várias outras rachaduras pelo edifício, junto com a suas paredes escurecidas de gordura. Infelizmente, era o local preferido dele para comer.

-Mas a moeda já caiu, já houve uma face escolhida, pronto- Ela diz, enquanto termina de engolir o pedaço de comida que estava em sua boca e ainda olhando para a rachadura, imaginando-a como uma minhoca caminhando pelo teto. Sem dar uma pausa depois da última palavra dela, Ele emenda:

-Mas se você não sabe qual é a face que caiu, se isso é uma incógnita pra você, como a face escolhida pode ser uma verdade?

-Isso não muda que fisicamente uma face já foi escolhida, o universo já tem a sua resposta- Outra mordida.

-Mas o que é o universo se não a sua visão da sua vida?

-Como?- Ela diz, engasgada com a comida.

-Imagine que você vai viver toda sua vida e morre sem saber qual a face que caiu. Ou melhor, que eu te falo que é uma face mas é outra, e você morre pensando que a mentira é verdade? No final, essa não se torna a sua verdade? E se a sua verdade é diferente de outra verdade, real ou não, isso não torna a verdade absoluta inexistente?

-Mas, pelo amor de deus, a moeda já caiu, uma face já foi escolhida, ela tá lá, embaixo da porra da sua mão, a única diferença é que nenhum de nós sabe que diabos de face que caiu!

-Mas o que acontece com o sentid..

Um barulho de demolição toma conta do ambiente e em seguida um dragão desce do buraco formado no teto. Num movimento rápido o animal mitológico abocanha a cabeça de Ele, fazendo o corpo sem vida do rapaz cair no chão. O Dragão, num movimento rápido mas cavalheiro, vira de costas e voa pela janela do local.

Ela olha para o corpo do namorado, depois para mesa e exclama:

-Era coroa.